segunda-feira, 21 de dezembro de 2009



É nasceu. Joguem-na no berçário. Não deixe que a vejam de perto. Não deixem que assistam nada. Não deixem que lhe beijem sem um banho. Não deixem que lhe amem antes das enfermeiras lhe enrolarem em exames e ferros frios. Não deixem que sejam felizes seus progenitores, mas que o pai cumpra seu papel de macho e seja sempre rude com a mãe. Não deixem que...


Meu deus... (minúsculo mesmo que ele deve ser assim humilde...) ninguém pode mais nascer feliz e sorrindo? Ferros e vidros...


Ferros e vidros...

Pode sim, essas lembranças vem da chegada de um novo forte e corajoso que quebrou as barreiras da insensibilidade dos homens quadrados... veio ao mundo com muita força e traz nos sangue a história da família do vovô Hidemburgo, o bisa, fabuloso supererói tiradentes contador de causos... um salve aos que chegam e aos que já foram para dar-lhe espaço no mundo...

Amor, luz e força na peruca! Salve Isac.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Onde a cavalaria bebe água...

Na festa do cavalo todo o ano tinha novidade, o ano todo esperava e os paralelepípedos parecem também ansiosos. Prefeitos embotando projetos de jardim quadrados, com as mais quadradas copas possíveis, geram empregos, palmas! uma turma de jardineiros sem saber o que fazer com as partes menos simétricas das plantas. E na próxima exposição vamos ter uma nova atração... segunda feira a gente pensa no que virá.
Mas de tudo que se via na cidade dos cavalos, era onde bebiam água que queríamos ir... gozado é que num era pra vê-los se hidratando, é que nessas regiões da cidade, nas baias, poucos iam... e algo inusitado é sempre curioso,e assim íamos mostrar os confortáveis bebedouros ao par mais interessante que topasse a aventura, frio vento, deserto, ah os desertos tem a sedução da solidão, lugar bom de se conhecer um olhar fugitivo de sorriso oblíqüo...

sábado, 15 de agosto de 2009

A farpa e o boticão



Em toda zona da mata talvez nunca houvera nome mais temido, Chumbo Grosso. Amizade de origens um tanto quanto obscuras, ninguém sabe ao certo, acredito que como na fábula do leao com uma farpa no pé, com aquele humor delicado que somente os leões até que um pequeno e ousado ratinho lhe arranca a farpa... uuuuh, que alívio. Pois um cabra desse quilate a ponto de mandar bala no próprio dente depois de tanto mandar bala em gente, tamanha insuportável dor de dente.
Do que um boticão num é capaz, a dor, um elo, até mesmo chumbo grosso trai a carne diante da dor, um dente enfurecido... eis uma boa alma, um alicate sagrado, uma força bruta salvadora, um puxa sem dó, um buraco no vazio do ser e uma dor alivia a outra. O temível eternamente grato, e mais uma vida salva pelo vovô, uma nova parceria de pescarias.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Beija flores, umbu-cajá e alta tensão


As vezes ficava sentado na murada vermelha. O violão riscado veio depois fazer uma boa compania, mas o que mais intrigava eram os beija-flores, bebiam do melaço de plástico preparado cerimoniosamente pelo velho tiradentes... ariscos e frenéticos fosflorecendo os instantes no ar. E vagabundamente, esparramado na murada, o ângulo era cruzado pelo fio de alta tensão, tão perto, cortava o céu e os algodões multiformes, além daquelas arvores de copa quadrada que os prefeitos adoram. A rua do Bife era cheia, e tinham umas frutinhas amarelinhas, meio manga, mas num era, e ninguém sabia dizer o que era, como só via as copas quadradas nunca consegui reconhecer aquele fruto em outro pé. Acho que era umbu-cajá, sei lá, ou qualquer fruto impossível numa cidade paralelepipedo. Depois de tanto bater tão rápido suas asas, os beija-flores pousavam no fio desafiando a eletricidade, dava inveja mas também nunca tive vocação pra equilibrista, e a preguiça da tarde, ali, deitado na murada, só era despertada quando na rua um olhar fugia até sumir dobrando a esquina com a saia cheia de graça.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

da varanda azul



No boteco da esquina comprei um pedacinho do rolo. Sai com os bolsos fedendo, corri pra varanda azul de onde o mundo ficava diferente. Dali, de mansinho, peguei na base de osso o presente mais valioso que já havia ganhado. Quem me deu foi meu pai, mas o vovô fez questão de avaliar como muito bom, e o fez me ensinando amolar o canivete na pedra. Barulhinho bom, schuiz, schuiz...

Pensei que de tanto amolar um dia ia ficar igual aos dele, e assim amoladinho piquei fumo e enrolei a palha. Baixei o som, que ninguém podia ver o tarugo fumegando... bufo, bufo, traguei daquele amargo que acendi no isqueiro do Seo Hidemburgo. Tonto, cara feia, tosse, mas até o fim, como gente grande, e ao fim, do alto da varanda a bituca foi contemplada enquanto planava e pousou levemente no olho do jardim, em frente ao antigo consultório.
O canivete, uma pena, de tão usado, para tudo que era tarefa, de cortar, apontar, parafusar, se esmolengou todo. Tentei até consertar, mas o velho osso do cabo, acabou-se por enterrado no mesmo jardim do consultório, de onde ao fundo o barulhento compressor desenhava dentaduras para toda sorte de gente.
Um esmeril afiado:

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A verdade sobre a nostalgia

A verdadeira e curiosa bibliografia de Paul Von Hidemburg teve em resumo O dirigível Hindenburg assim nomeado para sua homenagem. Não o inventou, mas espalhou as trincheiras para cercar a França na Primeira Guerra, virou presidente da alemanha por um partido não nazi em 1932, e em 1933 nomeou Hitler como chanceler.
a queda:

http://www.youtube.com/watch?v=YDU2MWJwJDc

Mas o meu avó Hidemburgo, era um mulato tiradentes, não gostava muito de música salvo samba-canção com todos aqueles bordões. Tratava dos nossos dentes sem muita cerimônia, mostrava cicatrises de acampamentos e campanhas de pesca mato adentro e mato afora. Tinha a pontaria no fundo da garrafa. Acho que nunca tirou o bigode, e era conhecido pelas famílias espalhadas beira rios, sobe morro desce morro nas matas de Minas...

Na Rua do Bife, um buraco no tempo

Havia, na Rua do Bife, um buraco no tempo.
Não pesava tanto quanto caixas de guardar discos de vinil, um velho aparelho de som Gradiente, seus enormes auto-falantes e uma televisão, que se enrugaram naquela casa numa eterna separação. Depois que eles se foram, ninguém mais atravessava aquela porta até que o imóvel fosse vendido.
A cadeira de balanço, anzóis, nylons, varas, molinetes, cera de abelha, livros de hipnose, chumbo, radiografias de dentes, moldes de dentadura, fotografias se apagando e o velho calango, reinaram à penumbra no buraco do tempo. A porta mesmo emperrada a gente queria sempre era entrar ali. Tossindo, escondido, espantados e sorrindo.
O furo do mundo vazava também dali.

cabeça de peixe, bigodões, brilho no escuro, picando fumo...


Cabeças de peixes empalhados, livros velhos empoeirados, prateleiras vivas de memórias mortas. Um dia achei lá dentro um isqueiro. Um pequeno isqueiro preto, com um peixinho de aquário dourado impresso no preto. Brilha ainda no escuro quando lhe aperta no fundo o botão tras o lumem. Vi o vovô fumando cachimbos, acendendo cigarrilhas, torrando charutões, pindurados em seus bigodões. Algo que ninguém nunca antes viu, lógico se ele num fumava. Mas eu vi. Com sua coleção de canivetes orgulhosamente nenhum suiço, tratando a corda daquele rolo preto e fedorento, chispando bem fininho para cuidadosamente enrolar na palha e pitar um amargo gosto de gente grande.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

calangos, espingardas e zeppelins






Hã?
Ah sim...
Então, lembra daquele negócio?

Escreva ai, então, algum troço que faz lembrar...

Eu por exemplo, lembro do quartinho das espingardas do vovô, onde morava um enorme e gigantesco calango que passamos a chama-lo Walli, Walligator, suas patas eram tão grandes que tremiam todo aquele chão de cimento queimado cinza, ladrílios vermelhos e rachados que formavam grandes quadrados polvilhados de crateras. Essas crateras podiam ser pegadas na lua, lagos infinitos, por onde também pescavam o vovô. Hidemburgo, era o nome do inventor do Zeppelin, mas era o nome do meu avô também. Seu temperamento era mesmo de um super-herói, porém nem tinha lá tanta paciencia assim, principalmente se fossemos pescar todos juntos... aguas correndo, lembram o vovô danado. Jacarés e calangos lembram-me seu quarto de espingardas e cabeças cortadas de peixes empalhados... e por um trajeto mais longo vem à vista
o grande Zeppelin de chumbo,
leve e sobrevoando céus e
guerras...
um poço sem fundo de lembranças.