quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Na Rua do Bife, um buraco no tempo

Havia, na Rua do Bife, um buraco no tempo.
Não pesava tanto quanto caixas de guardar discos de vinil, um velho aparelho de som Gradiente, seus enormes auto-falantes e uma televisão, que se enrugaram naquela casa numa eterna separação. Depois que eles se foram, ninguém mais atravessava aquela porta até que o imóvel fosse vendido.
A cadeira de balanço, anzóis, nylons, varas, molinetes, cera de abelha, livros de hipnose, chumbo, radiografias de dentes, moldes de dentadura, fotografias se apagando e o velho calango, reinaram à penumbra no buraco do tempo. A porta mesmo emperrada a gente queria sempre era entrar ali. Tossindo, escondido, espantados e sorrindo.
O furo do mundo vazava também dali.

Um comentário:

  1. Salve!
    eu ia postar isso, mas nao consegui:
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    Ao passar por aquela porta de ferro e vidro às três da tarde de qualquer domingo ainda se ouve baixinho o blues do violão desenhado, basta fechar os olhos.
    Se passar numa quarta-feira, ouve os dois mais novos brigando por causa de picolés. Na segunda, ouve-se Cartola ou Creedence, na terça, Jetrho Tull ou Muddy Waters, na quinta, discussões sobre as aventuras sórdidas e os métodos de composição do Raulzito ou mentiras cabeludas sobre os Beatles. Cada dia, cada hora repassa uma lembrança e você tem de volta, por alguns momentos, sua cabeça anuviada e chapada daqueles dias.
    Aquela rua era aquela casa. Daquela sacada o mundo ficava de fato diferente. Havia uma poderosa força do passado ali.

    Muito obrigado pelo post, Matheus.
    Deu das melhores saudades que já senti.
    Ah, obrigado também por me ensinar blues naquela época também. Hoje sou muito feliz por causa disso.

    Abraço,
    Rafael Veggi.
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