segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Beija flores, umbu-cajá e alta tensão


As vezes ficava sentado na murada vermelha. O violão riscado veio depois fazer uma boa compania, mas o que mais intrigava eram os beija-flores, bebiam do melaço de plástico preparado cerimoniosamente pelo velho tiradentes... ariscos e frenéticos fosflorecendo os instantes no ar. E vagabundamente, esparramado na murada, o ângulo era cruzado pelo fio de alta tensão, tão perto, cortava o céu e os algodões multiformes, além daquelas arvores de copa quadrada que os prefeitos adoram. A rua do Bife era cheia, e tinham umas frutinhas amarelinhas, meio manga, mas num era, e ninguém sabia dizer o que era, como só via as copas quadradas nunca consegui reconhecer aquele fruto em outro pé. Acho que era umbu-cajá, sei lá, ou qualquer fruto impossível numa cidade paralelepipedo. Depois de tanto bater tão rápido suas asas, os beija-flores pousavam no fio desafiando a eletricidade, dava inveja mas também nunca tive vocação pra equilibrista, e a preguiça da tarde, ali, deitado na murada, só era despertada quando na rua um olhar fugia até sumir dobrando a esquina com a saia cheia de graça.

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